Metalúrgicos do RJ discutem crise socioeconômica e propõem medidas para enfrentar demissões em massa
10 de fevereiro de 2015
Reunidos dia 6 de fevereiro na Federação dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro, dirigentes sindicais dos metalúrgicos do estado traçaram estratégias de enfrentamento da crise socioeconômica que se abateu sobre o país depois das investigações da Operação Lava Jato, que vem denunciando rombos bilionários nos cofres da Petrobras, maior estatal brasileira. Após palestra do técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Roberto Anacleto, sobre “A crise na Petrobras e os impactos para os trabalhadores”, sindicalistas apresentaram propostas, que serão levadas amanhã (11) à Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos (CNTM), em São Paulo.
Entre as ações, está a apresentada pelo presidente da Federação dos Metalúrgicos do RJ, Francisco Dal Prá, que acredita que trabalhadores e empresários precisam discutir em conjunto o problema e buscar soluções também conjuntas. “Trabalhador sozinho não vai a lugar nenhum. Temos que agir juntos. A crise é grave, é nacional, e foi gerada pela Petrobras, que precisa rever sua política, privilegiando a indústria nacional, para fomentar a indústria naval brasileira e toda sua cadeia produtiva, com geração de emprego, renda e riqueza”, defendeu Dal Prá, que ressaltou estar muito preocupado com a carta convite a empresas estrangeiras para prestar serviços a Petrobras, excluindo a indústria nacional em processo licitatório.
O plenário aprovou, ainda, que o Dia Nacional de Lutas, com centrais sindicais, confederações, federações e sindicatos, em Brasília, seja uma grande manifestação popular, inclusive com ocupação do Congresso Nacional, para pressionar o governo e parlamentares a rever políticas que restringem direitos dos trabalhadores. Outra proposta foi criar o Dia Estadual de Lutas, com ações preparatórias para o Dia Nacional, além de apoio aos Sindicatos que estão se organizando em suas regiões para protestar contra o desemprego e mudanças nos direitos trabalhistas, como as Medidas Provisórias 664 e 665, que alteram benefícios da Previdência, como auxílio doença e pensão por morte, e as regras do seguro desemprego, prejudicando os trabalhadores.
Dirigentes sindicais expuseram os problemas que vivem em suas regiões e apresentaram propostas
Participaram da reunião metalúrgicos de Campos, Volta Redonda, Teresópolis, Duque de Caxias, Cordeiro, São Gonçalo, Macaé e Angra dos Reis, siderúrgicos, além de diretores da Federação dos Metalúrgicos e advogados do Departamento Jurídico da entidade. O encontro foi aberto com a inauguração da reforma do auditório da Federação e uma homenagem ao presidente Francisco Dal Prá, que agora empresta seu nome ao novo espaço.
Dirigentes sindicais relataram inúmeros casos que demonstram a gravidade da crise que pode reduzir drasticamente a produção do setor no país. A Boechat, em Itaperuna, já demitiu 70 de seus 250 empregados. A Paulo Moura, em Cordeiro, fechou as portas e não pagou os direitos trabalhistas a ninguém. Atraso de salários e demissões no Comperj, com reflexos nas economias de municípios como Itaboraí, Rio Bonito, São Gonçalo e Maricá. A Estrutural, em Duque de Caxias, com capacidade para gerar 1.500 empregos, só mantém 200 funcionários. E a Integra, consórcio formado pela OSX e Mendes Júnior, já anunciou ao Sindicato dos Metalúrgicos de Campos a demissão de 400 trabalhadores.
“Algumas empresas estão procurando os sindicatos para negociar ou ao menos informar dessas demissões, mas outras o fazem sem dar satisfações ou honrar os direitos trabalhistas. Estamos tendo que entrar com medidas jurídicas para anular essas demissões até que as empresas venham negociar com os sindicatos, ou propondo rescisões indiretas de contratos de trabalho”, afirmou João Campanário, advogado que coordena as ações do Departamento Jurídico da Federação dos Metalúrgicos RJ.
Palestra do Dieese
Roberto Anacleto, do Dieese, explicou que, com o pré sal, o Brasil pode saltar de 21º para 8º lugar no ranking mundial dos maiores produtores de petróleo. “O que está em xeque é como os trabalhadores vão acessar esses recursos em serviços, de forma que essa riqueza seja distribuída da melhor forma em benefícios ao povo brasileiro”.
Anacleto explicou como é formada a holding, a Sete Brasil, criada pela Petrobras para gerir os negócios do pré sal e demonstrou que os fundos de pensão dos trabalhadores e o FGTS estão entre os investidores. “Por que, então, não temos representantes dos trabalhadores no Conselho Gestor?”, indagou.
E foi além: “Os EUA levaram 5 anos para recuperar sua economia, que é baseada em consumo. Já o que move a nossa economia é o setor petróleo. A Lava a Jato impacta diretamente a construção civil e montagem, química, petroquímica e metalurgia. As empresas envolvidas, juntas, empregam 350 mil trabalhadores e 6 mil empresas fornecedoras da Petrobras correm risco com a crise. Já foram demitidos 16 mil trabalhadores em todo o país, do final do ano passado até agora e, pelo que vocês relatam, esse número chegará a 20 mil rapidamente. O que fazer para enfrentar esse quadro?”, provocou o analista do Dieese, antes da apresentação e votação das propostas, que serão levadas pelo Rio de Janeiro à CNTM dia 11.
Mais:
Leia carta aberta à população, divulgada pelas centrais sindicais.
Fonte: Rose Maria da Assessoria de Imprensa Força Sindical RJ
Marcelo Peres
Secretaria de Imprensa e Comunicação
Força Sindical do Estado do RJ