Doenças silenciosas ameaçam trabalhadores de postos de combustíveis
15 de março de 2016
Além do benzeno, os frentistas encontram no ambiente de trabalho situações que são tão prejudiciais à saúde quanto o produto químico e cancerígeno, contido na gasolina. O alerta foi dado na última quinta-feira (10), durante o I Seminário de Saúde e Segurança do Sul do Estado, realizado pelo Sindicato dos Empregados em Postos de Combustíveis do Rio de Janeiro (Sinpospetro-RJ), em Barra Mansa.
Pesquisas científicas comprovam que trabalhar em pé por várias horas pode ocasionar a formação de varizes. A má vascularização é tão preocupante quanto o benzeno, já que pode levar à morte em consequência do entupimento das veias. Ao expor o assunto, o professor Claude Chambriard chamou a atenção dos trabalhadores para o problema, que muitas vezes só aparece depois da aposentadoria e não é caracterizado doença do trabalho.
Benzeno
Ao falar sobre a “Exposição Ocupacional ao Benzeno”, o médico do trabalho e Coordenador da Comissão Nacional Permanente do Benzeno (CNBz), Carlos Eduardo, destacou a importância da relação do Sindicato com os trabalhadores e o desenvolvimento de projetos que orientem a categoria. Com relação à saúde do trabalhador, ele frisou que a exposição ao benzeno acontece de forma agressiva, já que a gasolina contém obrigatoriamente 1% do produto.Segundo ele, alguns fabricantes de bombas informam que para cada mil litros de gasolina vendidos, 1,3% evaporam. Carlos Eduardo frisou que o problema é grave não só para o trabalhador, mas para a comunidade em geral, já que o vapor da gasolina tem benzeno.
Já o Coordenador do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Antônio Sérgio de Almeida Fonseca, chamou a atenção para as doenças crônicas, silenciosas, como o benzenismo, que são difíceis de identificar. Segundo ele, a relação da doença se dá através da observação de uma rotina de atendimento médico, com a avaliação dos hemogramas e o histórico ocupacional do trabalhador. Ele disse que o trabalhador do posto de combustíveis deve ficar atento a possíveis alterações nos exames hematológicos que podem estar ligadas a exposição ao benzeno.
Ao apresentar sua exposição sobre a pesquisa “Avaliação da Exposição Ocupacional ao Benzeno em Posto de Combustíveis no Município do Rio de Janeiro”, o farmacêutico Leandro Vargas Barreto, técnico da Fiocruz, disse que cerca de 2 milhões de trabalhadores estão expostos ao benzeno no mundo. Ele destacou que é preciso desenvolver um trabalho com empresas, sindicatos e órgãos públicos para reduzir os riscos de contaminação.
NR 20 Fiscalização
Para o auditor-fiscal do trabalho de Volta Redonda, José Olímpio dos Santos Neto, nem todas as empresas estão preparadas para receber e se adequarem às especificações da NR 20, que trata sobre segurança e saúde nos postos de combustíveis. Ao falar sobre a Norma Regulamentadora, ele disse que o Ministério do Trabalho, ao fiscalizar os postos do Sul do Estado, têm orientado os proprietários sobre a implantação da NR 20. Segundo José Olímpio, ao notificar as empresas, o MTE dá um prazo de até seis meses para que a norma seja implantada.
Aposentadoria especial
Ao falar sobre “Aposentadoria Especial como Direito Para os Trabalhadores dos Postos de Combustíveis”, o presidente do Sindicato dos Frentistas de Niterói e advogado Alexandro Silva, destacou que comprovar a aposentadoria especial não é tão fácil como se imagina. De acordo Alex Silva, o frentista nunca se enquadrou na aposentadoria especial por categoria, mas sim pelo agente nocivo. Ele afirmou que é mais fácil conseguir a aposentadoria especial pela exposição ao ruído do que por agentes nocivos.
Inclusão de deficientes
Ao palestrar sobre a inclusão de deficientes no mercado de trabalho, o médico e auditor-fiscal, Narciso Guedes, disse que as barreiras físicas não são difíceis de serem superadas, mas as de semelhança sim. “O difícil não é aceitar o outro, mas se ver no outro, pois somos frágeis e vulneráveis a uma série de fatores. Assim surge a resistência para dar oportunidade de trabalho ao deficiente”, analisou.
Abertura
Os trabalhadores de todo o país devem se unir para evitar que projetos que retiram direitos sejam aprovados no Congresso Nacional. Na abertura do I Seminário de Segurança e Saúde do Sul do Estado, o presidente do Sinpospetro-RJ, Eusébio Pinto Neto, disse que o momento atual do país requer a união da classe trabalhadora. Ele chamou a atenção para as mudanças que estão sendo preparadas e citou como exemplo as alterações nas Consolidações das Leis Trabalhistas (CLT). Segundo ele, desde a abertura democrática, o país não vivia um momento tão difícil, de incertezas políticas e ataques aos direitos dos trabalhadores.
Eusébio Pinto Neto informou que a rotatividade da mão de obra e a distribuição geográfica das empresas dificultam o trabalho de conscientização sobre os riscos de acidentes e danos à saúde provocados pela exposição no ambiente dos postos de combustíveis. Ele afirmou que a educação é o caminho para esclarecer a categoria e tornar o ambiente de trabalho mais seguro. Eusébio informou que o grande objetivo do seminário é propagar as informações apresentadas no evento. “O trabalhador precisa tomar consciência dos seus direitos e cobrar das empresas o cumprimento das normas de segurança que garantem a extensão da vida. A qualificação é muito importante para valorização da mão de obra”, ressaltou.
Acidentes
Trabalhadores e palestrantes presentes ao seminário fizeram um minuto de silêncio em memória dos funcionários de postos de combustíveis que morreram recentemente, em consequência de explosões. Júlio César Oliveira morreu na em 7 de março, após ficar seis dias internado por causa de uma explosão no posto em que trabalhava, em Vila Velha, Vitória (ES). O acidente aconteceu quando ele retirava gasolina de um carro. Em Recife (PE), Geival Antônio da Silva também foi vítima fatal de uma explosão enquanto limpava o tanque de combustível.
Homenagem
No encerramento do Seminário, o presidente Eusébio Pinto Neto e a vice, Aparecida Evaristo, prestaram uma homenagem ao médico Narciso Guedes, em nome da diretoria e de todos os trabalhadores de postos de combustíveis do Estado do Rio de Janeiro. A auditora fiscal do Ministério do Trabalho e Previdência, Gisele Daflon, também foi homenageada.
Sindicatos
Representantes dos Sindicatos dos Frentistas de Campinas (SP), Raimundo Nonato, e da Bahia, Antônio Lago, prestigiaram o I Seminário de Segurança e Saúde do Sul do Estado do Rio de Janeiro. Estavam presentes, ainda, representantes dos Sindicatos dos Frentistas de Campos, Valdeci Guimarães, e de Niterói, Alexsandro Silva. O diretor do Sindicato dos Siderúrgicos, José Carlos Ferreira, representou a Força Sindical RJ no evento.
Por Assessoria de Imprensa Sinpospetro-RJ
Fotos: Assessoria de Imprensa Sinpospetro-RJ
Marcelo Peres
Secretaria de Imprensa e Comunicação
Força Sindical do Estado do RJ