Mercado de trabalho: 183 mil vagas extintas no RJ
22 de janeiro de 2016
Foram fechadas em dezembro 596.208 vagas formais de trabalho no país, levando a um resultado de 1,542 milhão empregos pela CLT que deixaram de ser oferecidos no ano passado. Esse foi o pior resultado da série histórica, iniciada em 1992. Desde 1999, o país não encerrava um ano com menos trabalhadores empregados do que iniciou.
Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) foram divulgados nesta quinta-feira (21), em Brasília. Dos oito setores consolidados no Caged, houve grande redução na indústria da transformação (608 mil) e na construção civil (416 mil), que concentra parcela importante dessa redução dos postos em 2015. Nos serviços, foram 276 mil vagas fechadas.
O ministro do Trabalho e Previdência Social, Miguel Rossetto, porém, defendeu ser mais importante destacar que a queda no estoque de empregos foi de 3,74% do estoque formal de trabalho celetista no Brasil. No ano passado, o estoque de empregos fechou o ano com 39,6 milhões de vagas, nível de 2012. “Não é correto afirmar que 2015 destruiu as conquistas dos últimos anos. Continuamos com mercado formal elevado no país, mesmo que números do ano passado não tenham sido positivos”, disse Rossetto, ressaltando que, desde 2003, 16,8 novos postos de trabalho formais foram criados.
Em termos de localização, os estados com maior concentração do mercado e da indústria no país foram mais afetados, segundo Rossetto. São Paulo liderou as perdas, com 500 mil demissões a mais do que contratações, seguido de Minas Gerais, com cerca de 190 mil e Rio de Janeiro, onde foram extintos 183.686 empregos com carteira assinada. Mas todos os estados terminaram o ano com número menor de vagas. “As reduções de postos de trabalho foram muito concentradas em setores. Estados como São Paulo, Rio e Minas Gerais concentram a atividade industrial no país. Foram nesses estados em que sentimos queda maior dos postos de trabalhos. São nesses locais que devem se concentrar políticas públicas”, anunciou o ministro.
A renda dos trabalhadores também caiu no ano passado depois de mais de uma década em alta. Em termos reais, houve recuo de 1,64% na renda dos trabalhadores brasileiros. A queda foi mais severa entre os homens do que para as mulheres. Com isso, a proporção do salário das mulheres em relação aos homens subiu de 86,19% em 2014 para 87,90% no ano passado. “A queda real no salário de admissão do mercado em 2015 foi muito inferior aos aumentos reais dos últimos anos”, minimizou Rossetto.
Apesar de previsões do mercado serem pessimistas com relação aos números de emprego também para 2016, Miguel Rossetto disse esperar que este seja um ano de retomada da economia e da criação de vagas. Para ele, a retomada das concessões de infraestrutura, o aumento da concessão de crédito e o impacto do câmbio mais elevado na indústria nacional, além do recuo da inflação, estão entre os elementos que apontam para um resultado melhor neste ano.
Questionado, Rossetto comentou a decisão do Banco Central de ter mantido a taxa básica de juros, destacando que o governo trabalha com a retomada do crescimento como prioridade. “O Banco Central trabalha na sua autonomia. É sinalização de estabilidade, dentro de um esforço nacional de recuperação da atividade econômica. O crescimento econômico é a meta fundamental e, portanto, essa posição de estabilidade sinaliza uma possibilidade positiva de respondermos à prioridade de crescimento econômico neste ano no país”, afirmou.
Perspectiva negativa para 2016
Apesar do otimismo do ministro, para os empresários dos setores que mais perderam vagas no ano passado, os resultados foram reflexos de ações econômicas do governo e o cenário à frente continua desalentador. “Quando o governo gasta demais com a máquina e falta dinheiro para investimento, 420 mil famílias de trabalhadores da construção civil ficam sem emprego”, disse José Carlos Martins, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).
Também para Flávio Castelo Branco, gerente de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), sem uma solução consistente e duradoura para a questão fiscal, não haverá melhora para o setor. “A previsão é de queda forte também em 2016. O câmbio dá um alívio para alguns segmentos, mas não é suficiente para reverter o quadro da indústria”, disse ele, ao ser questionado sobre as projeções positivas do ministro.
Para ele, oferta de estímulos e mais crédito são positivos, mas sem a recuperação da confiança do empresário, podem ser medidas com poder limitado. Castelo Branco lembra, ainda, que o número de empregos será um dos últimos indicadores a reagir a uma retomada econômica.
Inflação alta reduz ganhos salariais
A disparada da inflação corroeu os ganhos salariais da maioria das categorias no ano passado. Segundo o “Salariômetro”, estudo elaborado desde 2007 pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), na média geral, os trabalhadores tiveram aumento de apenas 0,16% acima da inflação em 2015.
O número só ficou positivo porque, no início do ano, muitas categorias ainda conseguiram reajustes reais. Mas a inflação de dois dígitos do segundo semestre fez com que os aumentos concedidos em dezembro ficassem quase um ponto percentual abaixo do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), usado nas negociações trabalhistas.
No mês passado, a média dos reajustes ficou em 10%. Com o INPC acumulado em 12 meses até novembro de 10,97%, a perda real das categorias ficou em 0,97%. Os resultados são obtidos a partir da base de dados de acordos e convenções do Ministério do Trabalho.
Segundo Hélio Zylberstajn, professor da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do “Salariômetro”, o resultado decorre da combinação entre a piora do quadro recessivo no país e a inflação. Em janeiro passado, quando as expectativas para a economia eram menos pessimistas e o INPC acumulado nos 12 meses anteriores era de 6,2%, os trabalhadores ainda conseguiram reajuste real de 1,3%. Ou seja, conseguiram compensar a inflação do período e ainda ter ganhos reais.
Mas a situação se deteriorou gradativamente ao longo do ano e, no segundo semestre, as negociações ficaram mais apertadas. Junho foi o último mês de reajustes reais acima de zero. Nos meses seguintes, os aumentos empataram com o índice de preços e passaram para o terreno negativo em novembro. “A recessão força as empresas a controlarem seus custos. Elas vão para a mesa de negociação com uma posição bem menos generosa”, avalia Zylberstajn.
O quadro difícil fez ainda com que 244 empresas reduzissem salários. O número é pequeno diante das cerca de 24 mil negociações salariais realizadas no ano passado, mas representa um salto diante do resultado de 2014, quando só quatro empresas fizeram acordo com os funcionários para cortar salários e jornada de trabalho, na mesma proporção. “Minha percepção é que os aumentos reais vão continuar raros, apesar da inflação mais baixa, por causa da recessão”, analisa o professor da USP.
Por Rose Maria, Assessoria de Imprensa. Fonte: O Globo.
Marcelo Peres
Secretaria de Imprensa e Comunicação
Força Sindical do Estado do RJ